Poucos meses após a Europa estabelecer regras rígidas para TVs 8k, apenas Samsung e LG terão novos modelos desse tipo em 2023 no Brasil.
A medida europeia restringe a venda de aparelhos que consumam muita energia, caso destas TVs, e é uma resposta à grave crise energética no continente, desencadeada com a guerra na Ucrânia. O Brasil não impôs restrição às telas 8K, mas especialistas afirmam que a decisão europeia pode afetar o segmento por aqui, já que as cadeias de produção são conectadas em escala global.
A preocupação dos reguladores faz sentido. “Quanto mais alta a resolução, maior o número de pixels para formar imagens de melhor qualidade, o que exige mais processamento e gera maior consumo de energia”, explica Paulo Sérgio Correia, consultor na área de vídeo com 40 anos de experiência.
Com cerca de 33 milhões de pixels, as TVs 8K apresentam quatro vezes mais pontos na formação da imagem do que os modelos 4K. Hoje, a maioria dos televisores 8K à venda utiliza a tecnologia de miniLEDs, exigindo mais zonas de iluminação para gerar imagens brilhantes e de alta nitidez.
A novidade de 2023 desse segmento é a primeira TV OLED 8K. É a tela da LG de 77 polegadas, que chega em agosto ou setembro. Nesse caso, o consumo é ainda maior, já que são muito mais pixels orgânicos, característicos dessa tecnologia, precisando de energia para reproduzir imagens.
Por que Samsung e LG apostam nas TVs de 8K?
A Samsung é a fabricante que mais investe nessas telas: são 15 modelos de TVs miniLED 8K oferecidos em seu site, de 55 a 85 polegadas e preços a partir de R$ 6,4 mil.
Para 2023, serão quatro novos modelos, três deles já à venda. A sul-coreana enxerga o apetite do consumidor por estes aparelhos.
Lançamos a categoria 8K em 2019 e, de lá para cá, o crescimento em vendas foi constante. Dobramos as vendas em 2022 em relação a 2021, confirmando que existe mercado e potencial para essas telas no Brasil
Guilherme Campos, diretor de TV e Áudio da Samsung
Diferentemente da Samsung, a LG tem um histórico de altos e baixos com as TVs 8K. Em 2021, lançou os dois primeiros televisores com essa resolução (75 e 86 polegadas) e tecnologia miniLED. Em 2022, desistiu dos modelos, mas, neste ano, anunciou um único produto nessa categoria: a primeira TV OLED 8K.
Descontinuamos o 8K por falta de conteúdo e não por problemas com a tecnologia. Nosso retorno está relacionado a permitir que o consumidor explore todas as possibilidades das telas OLED. Considerando o tamanho das telas e das residências, além da distância média na casa dos brasileiros entre o telespectador e a TV, não há efetiva necessidade do 8K nos dias de hoje, mas é uma categoria que atende um nicho de mercado
Igor Krauniski, gerente de produtos de TV da LG
A TCL, outra fabricante que já ofereceu TVs de 8K no Brasil, ignorou o segmento ao anunciar sua para 2023 no país. Ela manteve o único modelo da categoria lançado em 2022.
Com as restrições de consumo, diminuem muito a demanda e a oferta globais, tornando a fabricação inviável
Maximiliano Dominguez, diretor de produto, engenharia e qualidade da Semp TCL
Outras fabricantes como Philips, Philco, AOC sequer apostaram no 8k por aqui.
O que dizem LG e Samsung sobre consumo energético do 8K
Para Krauniski, da LG, a realidade da Europa é muito diferente da do Brasil.
“A alta geração de energia limpa e renovável no Brasil faz com que não haja esse mesmo nível de preocupação por aqui. Além disso, a maneira como é feita a medição é exagerada e não reflete o dia a dia do consumidor.”
Ele explica que as mensurações foram feitas quando a TV exibia uma tela branca, o que exige que todos os pixels estejam acesos e quando o gasto energético é máximo. Situações em que isso ocorre, diz ele, são incomuns no dia a dia.
Já a Samsung argumenta que seus aparelhos possuem mecanismos para reduzir o gasto energético.
Informamos o consumidor sobre o modo Eco nos manuais, que reduz o brilho da tela e o consumo de energia. Várias iniciativas foram criadas pensando na sustentabilidade, como o programa Eco Troca, para o correto descarte das TVs com desconto na compra de uma nova, e o controle remoto SolarCell, que não precisa de pilhas
Guilherme Campos, da Samsung
Falta de conteúdo atrapalha
Longe de sofrer os desdobramentos de uma crise energética internacional, as TVs 8K enfrentam outros vilões para avançar: o alto preço, que podem custar até o triplo de um modelo 4K de mesmo tamanho, e a falta de conteúdo.
Hoje, o YouTube concentra a maior variedade de atrações com essa resolução. O app das TVs Samsung recomenda vídeos em 8K. Segundo a fabricante, são mais de 2 mil.
No streaming, a marca mantém parcerias com Globoplay e Prime Video, únicos serviços que já disponibilizam conteúdos em 8K. A lista de opções inclui o primeiro capítulo da novela “Pantanal”, alguns trechos de competições esportivas e um trailer estendido do primeiro episódio de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder”.
Ver as atrações do Globoplay sem travamentos, porém, é para poucos: a recomendação é ter uma internet com velocidade mínima de 250 Mbps. Ainda assim, as empresas não jogaram a toalha.
Como fabricante de TVs 8K, dependemos da oferta de conteúdo, ainda restrita, e de investimentos em infraestrutura de rede. Não é para agora, mas o caminho parece bem semelhante ao que já percorremos com o 4K há alguns anos
Igor Krauniski, da LG