Início de março, Campeonato Mundial de Masters de Natação em Doha, no Catar. Busch aguarda algumas japonesas que tinham vencido o Mundial anterior em Kyushu (Japão), do qual a chilena não participou. Suas adversárias, de sua mesma faixa etária, nascidas entre 1930 e 1934, não aparecem para competir.
Busch faz a prova mesmo assim. “Nadei contra mim mesma. Não tinha nenhum registro de como eu estava indo. Tinha a obrigação de quebrar recordes para mostrar que, mesmo nadando sozinha, era a melhor”, disse à AFP.
Nesta competição reconhecida pela Federação Internacional de Natação, ela obteve quatro medalhas de ouro: nos 100 e 200 metros livres, nos 50 metros peito e nos 50 metros costas. Nesta última prova, quebrou o recorde do Campeonato Mundial de Masters com o tempo de 1m04s.
“Se eu tivesse nadado contra os homens, teria ganhado”, afirma Busch, divorciada e mãe de dois filhos.
Esporte no sangue
Ela tem o esporte no sangue. Começou a nadar aos 9 anos e aos 13 já era campeã nacional.
Em setembro deste ano, Busch vai completar 90 anos com um mantra na ponta da língua: “Não gosto de perder. Faço o possível para ganhar”.
Na década de 1950, estampou capas de jornais e revistas com traje de banho, recortes que guarda e exibe com orgulho.
Aos 20 anos, casou-se com um oficial de cavalaria e trocou a natação pela equitação, semelhante ao hipismo. Modalidade na qual Busch também conseguiu ser a melhor em nível nacional. Sua sala é decorada com pinturas e esculturas de cavalos.
Mas aos 78 anos, sofreu um acidente que a levou de volta às piscinas, não para se recuperar, mas sim para competir.
“Caí tentando domar um potro árabe e quebrei o antebraço, a clavícula e algumas costelas”, relata. “Já tinha sofrido fraturas várias vezes (…) mas esta doeu muito. Meus filhos me disseram ‘Mãe, se você gosta tanto de competir, por que não se dedica à natação?”
Ela voltou e começou a vencer torneios para veteranos: Sul-Americano de 2016, Pan-Americano de 2018, Mundial de 2019 em Kwangju (Coreia do Sul).
Entre a primeira e a segunda conquista, sofreu um ataque cardíaco. Há sete anos, ela compete com um marca-passo e é capaz de nadar até 1.500 metros.
Ela treina pelo menos quatro vezes por semana e dá aulas de natação em uma piscina municipal de Viña del Mar, em seu país natal.
“Quero transmitir aos idosos que a vida se vive até ao último minuto. Façam alguma coisa, não precisam ser nadadores, mas não fiquem em casa deitados”, aconselha.
Sua mensagem parece falar mais alto que sua técnica: “A energia que ela entrega é maravilhosa. Você cansa, fica exausta, mas ela continua, é impressionante”, resume a auxiliar de enfermagem Patricia Aravena, de 55 anos, uma das alunas de Busch.